sábado, 23 de janeiro de 2010

Mulher tatuada

Este post é programado. Fiz este desenho na quinta-feira, dia 21, e coloquei para hoje. Que tals?


A propósito, hoje é niver de namoro! Dois anos!! O desenho não tem nada a ver porque enfim não rolou inspiração pra isso no prazo certo, mas aposto que mais na frente vai ter um desenhinho romântico. Estou feliz demais!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Memórias amargas

Lendo hoje o blog da Lola, num guest post onde uma leitora conta a terrível tentativa de abuso sexual que sofreu do pai, uma ira e também uma intensa vontade de desabafar tomou conta de mim. Toda mulher tem uma história parecida para contar. Pode não ser tão extrema assim, tão violenta, mas toda mulher já foi seguida, assediada num ônibus lotado ou mesmo foi vítima de mão-boba em festas. E isso desde a infância, passando pela adolescência até os dias de hoje.

E aí quando a gente para pra pensar as lembranças vem à tona. E no meu caso... ódio. Sim, é péssimo dizer isso, dá até um pouco de vergonha, porque se trata realmente de um sentimento péssimo. Mas não consigo deixar de sentí-lo, juntamente com mágoa e revolta. Ódio por ter sofrido tentativa de abuso aos 13 anos por um primo adulto que já tinha um filho, e muito mais por a família toda saber e ainda assim permitir o convívio normal do canalha com todos. Por meu pai mesmo tendo dado um escândalo (depois de colocar a culpa em mim pelo ocorrido, tendo se desculpado depois), ainda falar com ele, como se nada houvesse acontecido. Ódio por até hoje sentir uma imensa vontade de enfiar um belo murro bem no meio da cara dele, gritar para todos os conhecidos na rua que se trata de um marginal, que protejam suas crianças e ter o prazer de expulsá-lo de algum lugar. Ódio por não poder fazer nada disso, pois sei que não teria o apoio da família e ainda levaria fama de quem procura confusão, por lembrar uma coisa que aconteceu há 10 anos atrás.

Também lembro de um irmão desse meu primo (pois é, bela ninhada) ter deixado a ex-esposa de olho roxo por mais de duas semanas e minha família paterna e machista ter se reunido em volta da mesa dando razão a ele. E lembro de ter feito um escândalo imenso e ter levado bronca por isso. Mas eu, já feminista que era, não pude me calar. E gritei ao meu pai que era uma vergonha que o pai de três filhas desse razão a um marginal que batesse na esposa. E que se um dia eu passasse por esse problema sabia que não poderia contar com a ajuda dele.

E porque não falar do meu próprio pai, que bateu várias vezes na minha mãe e até a proibia de tirar a sobrancelha, sair de casa, pintar os cabelos pois isso era coisa de "puta"? E para nós posava de pai herói, muito digno e esperando que minha mãe colocasse o prato dele (como até hoje faz com a atual companheira, praticamente uma escrava do lar). Talvez eu não sinta tanta raiva porque sei que um dia minha mãe revidou e deu-lhe também uma bela surra, uma cena que hoje eu penso que adoraria ter visto. E hoje olho para o meu pai com uma mistura de amor e nojo, por saber que homens como ele deveriam estar na cadeia por baterem nas esposas. Mas como é difícil e doloroso desejar justiça para uma pessoa que se ama. Mas ainda assim meu sentimento feminista não afasta essa idéia, mesmo tendo se passado tantos anos. Porque uma coisa que os homens que violentam suas famílias não pensam é que a memória das crianças não passa. É algo que elas carregarão sempre, mesmo que só entendam o que aconteceu décadas depois. Não importa o que meu pai tenha feito de bom para mim, essa mancha nunca será apagada. Como mulher eu não posso permitir que ela se apague jamais.

E são tantos outros os personagens asquerosos com os quais compartilho o sangue. Um avô praticamente assassino desses que empunham a Bíblia, tios que ameaçam as esposas e irmãs (entre elas minha mãe), e por aí vai. Mas se há mais de duas décadas as mulheres da minha família resistiram, sei que as próximas gerações resistirão ainda mais. Porque se eu tenho vergonha de ter o sangue de alguns crápulas, ao mesmo tempo me orgulho de carregar o sangue de mulheres guerreiras que lutaram como puderam contra seus agressores. Muitas até conseguiram se livrar deles, afastá-los da própria vida. E sei que as crias femininas dessas gerações pretendem construir convivências mais igualitárias e educar os filhos de uma forma para que tais violências não se repitam de novo. E se um dia eu passar por algo do tipo, espero conseguir vencer o medo e correr atrás de justiça. E também espero nunca parir um canalha.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Aniversários de janeiro, lan houses ruins e sobrinho viciado em tecnologia

Preparei este post mais cedo na lan house, mas só agora parece que deu certo.

Janeiro é um mês de dois importantes aniversários. Pensei em fazer uma arte para homenageá-los aqui no blog mas não consegui ainda, em parte porque esqueci uma delas e em outra porque meu sobrinho-querido-pré-adolescente tem uma dificuldade enorme de liberar o computador. Tô pensando em comprar uma cadeira Ortobom, afinal, são dois terços de sua vida que você passa sobre ele, não é? Então, acho que essa criança passa um pouquinho mais na frente da máquina. Desta vez liguei o PC e deixei iniciando enquanto dava umas olhadas no jornal. Quando voltei ele já tinha começado a converter uns arquivos (isso mesmo, rápido no gatilho). Depois jogamos uma partida de vídeo game que eu já tinha ficado de disputar (ganhei de viradaaa!) e aí fui deixar o amor na parada de ônibus. Enquanto isso ele ficou no computador, mas tudo bem ele ter passado na minha frente, já que eu não tava usando mesmo. Quando cheguei em casa ele ainda estava num desses joguinhos tipo Ragnarok. Ele me viu e ficou na dele, achei que ia liberar. Demorou uns 10 minutos, dei uma olhadela e o joguinho ainda tava lá rolando. Ele não parecia estar procurando lugar pra salvar e depois sair nem nada disso. Perguntei se ele ia demorar e ele respondeu daquele jeito de criança enrolar a gente, bem baixinho, para não ser entendido. Mais dez minutos. Aí fui direto ao ponto: Tu não vai sair daí tão cedo, né? Aí ele: Vou demorar só um pouquinho... Aí perdi a paciência e vim para a lan house, porque eu sei que ele vai ficar lá até a noite. E descobri que aqui na lan não tem Corel Draw e o site da Faculdade não permite que eu renove minha matrícula porque está cobrando o pagamento da primeira parcela de 2010. Só que eu sou bolsista. `_´

Mas voltando ao assunto inicial, o primeiro aniversário é o do próprio blog. Um ano de existência! Na verdade ele completou no dia 30 de dezembro, mas tava tão em clima de ano novo que considero o início da vida útil bem pertinho da virada para 2009, que foi quando postei as resoluções de ano novo. E aí eu planejava fazer uma arte sobre isso e acabei deixando passar. Dando uma olhadinha nele, fiquei perplexa por ter postado apenas 100 vezes em 2009. Quer dizer, 265 dias sem colocar nada por aqui! Ruim, muito ruim! Espero em 2010 melhorar um pouco isso e tentar afastar aquele negócio de não conseguir escrever sem computador. Esses vícios modernos são péssimos, afinal, como é que nossos antepassados jornalistas trabalhavam? Com certeza não era em seus notebooks!

Quanto às coisas boas em relação ao blog, creio que ter conhecido novos blogueiros, entrado no lance dos posts temáticos e desenhado muitas coisinhas por aqui são as principais. Espero melhorar ainda mais minha técnica no Corel este ano. Ou quem sabe até me arriscar no Photoshop e ousar umas doidices. Também espero ter mais oportunidades em fotografia. A real é que eu gostaria muito de comprar uma câmera este ano, pois pedir a dos outros sempre é muito chato. Mas Potô e eu estamos juntando dinheiro para outras coisas e isso dificulta bastante. Acaba não dando para priorizar, apesar de que eu acho muito complicado um jornalista não ter câmera. Não dá para praticar, a gente deixa até de produzir matérias legais por não ter como registrar as imagens. Então no fim, a câmera não é tão superficial assim. Mas para fazer as tais matérias precisamos estar vivos e alimentados e ainda não estamos nem perto de ter a grana da geladeira para guardar a comida. Pensei em voltar aos tempos antigos, e conservar tudo com sal e especiarias. Quando o Potô chegar falo dessa idéia com ele.

O segundo aniversário é o de dois anos de namoro!! E todo mundo olha e diz: já? Pois é, já! E as coisas continuam bem, os planos firmes e tudo é nhindo! A idéia é comemorar com a galera numa partida de paint ball no fim de semana. E claro, ficando bem abraçadinhos no resto do tempo!!! Amor, muito amor!

E agora me despeço porque acho que o tempo por aqui tá acabando.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Tem dias que eu fico pensando na vida...

Dia desses estávamos vendo TV, quando pedi para o Potô falar mais baixo porque estava passando Viver a Vida e alguma coisa babado estava acontecendo. Aí o benhê olhou pra mim e disse: Tu mete o pau no cara mas curte, né?

O cara em quem eu meto o pau, a quem Potô se referia é o Manoel Carlos. Ou Maneco, que é
como os mais íntimos ou atores e outros profissionais que tiveram a chance de fazer várias novelas com ele o chamam. E porque eu desço o pau nele? Porque acho suas novelas absolutamente cretinas, machistas e preconceituosas. Os diálogos em sua maioria são bizarros e suas polêmicas fraquinhas. Se ele cria uma historinha para dar lição de moral na sociedade, no restante da novela tudo se contradiz e a tal lição vai por água abaixo. Todo mundo nas novelas é rico, até quem é pobre (só eu tenho essa impressão?) e os
pobres vivem em função dos ricos. Na verdade, isso ocorre em todas as novelas da Globo, né? Os empregados não têm vida própria. Vivem para observar e dar palpite na vida dos patrões. Acho que só vejo empregado de novela ter vida própria em Malhação, porque os filhos dos empregados ganham bolsas de estudo no colégio onde a história se passa e acabam se tornando
personagens ativos na trama, não apenas figurantes ou aquele que
só aparece para atender ao telefone. “Olha seu fulano, é a dona fulana no telefone, que que eu digo pra ela?”

E da mesma forma que até quem é pobre é rico, até quem vive uma barra na vida parece viver melhor que a gente! A Luciana, feita pela linda Aline Moraes, não tem os movimentos do pescoço para baixo (parece que agora começa a recuperá-los) e vive na praia. A família dela (principalmente a mãe, já que a maioria das mulheres ricas da novela são sustentadas pelos maridos) tem todo o tempo do mundo para passear com ela pelas ruas elitistas do Leblon, fazer
ensaios fotográficos, compras, etc. Não tô dizendo que o certo seria deixar a menina mofando no quarto, claro que não. Mas não é surreal que ninguém na casa trabalhe, e ainda assim possa usufruir de tanto luxo? Porque gente comum, pelo que eu saiba, se sofre uma barra dessas tem que se desdobrar com o tempo para pagar tratamento, conseguir transporte apropriado para
deficientes físicos e um monte de outras dificuldades. Ou será que a pensão que o novo personagem machista e asqueroso do José Mayer paga é tão milionária assim? Dá para sustentar
ele, a “primeira Helena negra”, lua de mel de três meses em Paris, a casa enorme onde
eles moram, mais os luxos e o tratamento da Aline Moraes, suas duas irmãs ricas e a ex-esposa e modelo? E ele ainda quer que a primeira Helena negra pare de trabalhar, viu? Vai ser o provedor, oficialmente! Outra coisa, se a Taís Araújo é a primeira Helena negra, porque diabos o Roberto Carlos fica cantando que a “mulher que eu amo tem a pele morena”? Pô gente, demora taaanto para por uma personagem principal preta e ainda erra na trilha sonora e na definição de sua cor? Mas talvez seja melhor que dizer que ela é da cor do pecado, né? Algo me diz que a Taís Araújo tem vontade de dizer uns bons palavrões com certas pessoas nessas horas.

E quanto aos diálogos bizarros? Não sei se alguém já notou, mas no meio da conversa entre os personagens, parece que baixa o Manuel Carlos e alguém faz um looongo discurso sobre as memórias da infância, coisas que os pais ou avós diziam e também sobre como homens e mulheres são. Quando estou assistindo parece que já vem um negócio e eu sinto que senta que lá vem o Manuel Carlos! A da semana passada foi quando um pai brigava com o filho mau humorado gêmeo e engenheiro (ou arquiteto, não lembro) e a mãe dele assistia desesperada à cena. Aí quando o pai levanta a mão para meter o bofete na cara do rapaz, a mãe dele grita: Não agrida seu filho!!! E enquanto pai e filho baixam os olhos sofridos e envergonhados, ela discursa aos prantos que quando era criança uma vez o pai dela bateu em um de seus irmãos e a relação entre eles nunca mais foi a mesma. “Porque a mãe pode bater em um filho, mas um pai não, pois
as coisas nunca mais poderão voltar ao normal”. E aí ela chorou, chorou, veio a bossa nova e os comerciais. E eu lá, boquiaberta com a doidice.

E quem foi que disse que o Manuel Carlos entende a alma feminina pelamordedeus? Não precisa comentar muito sobre essa estupidez, né? Acho que quem fica repetindo que ele conhece nossa “essência” com certeza não é mulher ou está sendo pago para dizer isso.

Ta bem, mas se eu detesto tanto, porque faço “shhhh” pro povo se eu estiver assistindo? Estive pensando sobre isso e acho que encontrei algumas razões:

As novelas dele são incrivelmente bonitas, leves e fantasiosas. Um pouquinho de diálogo, romance e drama, música boa e paisagens lindas. Além da aparência super confortável que todos levam. Passeando e rindo no calçadão, entrando no mar, viajando, tomando drinques na piscina... Tudo parece tão bom que dá até vontade de viver a vida dos outros. Quer dizer, exceto as das empregadas que são assediadas sexualmente pelos patrões e ainda são pintadas de gostosas fatais sem-vergonha e depois morrem no final.

Não precisa assistir tudo para entender o que está acontecendo. A trama acontece num ritmo estático e previsível. Não é como nas novelas das sete, cheias de núcleos e personagens que armam mil coisas, trocam de núcleos, traem e casam várias vezes. Tenho dificuldade e baixo Q.I. para entender esse tipo de trama. Igual com filme de assalto milionário ou de esquemas políticos. São aqueles que chamo “filmes cheios de nomes”. Tipo “Onze homens e um segredo”. Com o Maneco não. Você sabe que existe uma mentira que será revelada mais cedo ou mais tarde e só. Alguém vai levar um tapa durante um confronto muito esperado. E só. Fora isso é paisagem e bossa nova. Posso passar semanas inteiras sem ver a novela que sei que não vou perder o fio da meada. Ou seja: é entretenimento e alienação sem compromisso!

Viver a Vida tem atores que gosto. Gosto da Aline Moraes, Bárbara Paz (desde o tempo da Casa dos Artistas rs!), Taís Araújo e Lilia Cabral. Esse rapaz que está interpretando gêmeos é simplesmente genial! Parecem até dois atores diferentes! Impressionante.

A novela fala bem pouquinho de fotografia e moda. As
personagens principais (Helena e Luciana, creio eu) são modelos e como sinto atração por moda, me sinto atraída pelo universo supérfluo e também pelos estilos das duas. Também tem uns personagens fotógrafos cheios de tempo e equipamento caro para tirar fotos até abusar. E eu sonhando capitalisticamente com minha câmera e um emprego onde eu trabalho quando e onde quiser, cheia de dinheiro, roupas lindas, conversas idiotas, Chico Buarque... Mas o galã cafajeste e a violência contra a mulher eu dispenso, tá?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Não foi só com a Alanis

Quem mora em Fortaleza querendo ou não está sabendo da garota de 5 anos que foi raptada, estuprada e morta há uma semana. Para quem não sabe ou não mora em Fortaleza, vou contar o que houve (e por isso o post ficou tão grande). Alanis Maria estava com a família numa igreja do bairro Conjunto Ceará. Enquanto os fiéis se cumprimentavam durante o “abraço da paz”, um homem a levou do lugar e desapareceu. Nas horas seguintes a família da menina promoveu uma intensa mobilização no bairro, espalhando fotografias e dividindo-se em grupos para buscas juntamente com a polícia.

A mobilização da comunidade chamou a atenção da imprensa local que também divulgou as fotos da menina e fez com que a cidade acompanhasse de perto o que estava acontecendo. No dia seguinte por volta das 17:00, o corpo da menina foi encontrado num terreno próximo a um canal no bairro Antônio Bezerra. Por coincidência eu estava lá nesse dia, pois o Potô mora a poucos metros do local. Depois que cheguei da escola onde estou lecionando (depois conto mais sobre isso), percebi a intensa movimentação de helicópteros e as pessoas se aglomerando na rua. Ele não estava em casa na hora, tinha ido a uma locadora com o sobrinho, por isso eu e a sogra ficamos nervosas já que não sabíamos o que estava acontecendo. Depois veio a notícia de que a criança havia sido encontrada. Chegamos inclusive a ouvir que ela ainda estava viva, o que não é verdade de acordo com as matérias que venho acompanhando. Ao contrário dos curiosos que foram ao local ver o cadáver ou mesmo a movimentação, Potô e eu ficamos em casa tentando pensar em outras coisas para afastar a sensação horrível que tomou conta de todos na comunidade.

Antes de ontem o suspeito (na verdade ele já confessou) foi preso (juro!) e a polícia vem tentando protegê-lo de um linchamento, pois desde que o corpo da criança foi encontrado uma multidão cobra por justiça (ou vingança?) na frente da delegacia do bairro e arremessa pedras contra viaturas onde o suspeito possa estar. A propósito, o acusado já tem antecedentes de estupro, mas estava em liberdade.

O caso de Alanis Maria não sai da boca dos fortalezenses e nem da pauta dos jornais da cidade. Alguns desses, sensacionalistas que são, fazem discursos longos, temperados e esgotam o assunto até onde não dá mais. O velório da menina e o enterro pareciam assim, quando um artista morre. A missa de sétimo dia, realizada ontem à noite, tinha tanta gente que não coube todo mundo na igreja.

Aí eu tava pensando...

Desde que tudo isso começou eu venho observando a reação e os comentários das pessoas. Todo mundo horrorizado, revoltado e muito triste pelo que aconteceu e sempre chegando e dizendo “como é que um cara faz um negócio desses com uma criança...” Mas o que mais ouvi mesmo foram as pessoas dizendo o quanto a Alanis era linda. “Loirinha do olho verde, coisa mais fofa.”
Não me leve a mal. Não estou dizendo que é ruim que a população esteja revoltada e sensibilizada com o assunto. Isso é muito bom, pois abre um pouco de espaço para um debate que precisa ser travado constantemente. O meu questionamento é: por que as pessoas não ficam assim em TODOS os casos de abuso sexual, estupro e outras violências envolvendo crianças e adolescentes? Quase todos os dias saem notícias nos jornais falando de abuso sexual dentro da própria família, cometidos pelos próprios pais muitas vezes. Mas são notícias pequenas, muitas não ultrapassam nem uma pequena coluna no canto inferior da página. Mas quando acontece com uma menina loirinha de olho verde, coisa mais fofa, aí a gente se revolta, é isso? E as outras? Porque isso não aconteceu só com a Alanis. A família dela não foi a única que sofreu com esse tipo de crime bárbaro nas últimas semanas.

Não sei se a sensibilidade das pessoas está diretamente ligada à cor da pele da criança. Mas a verdade é que esse tipo de crime é muito comum e constantemente praticado contra crianças negras, que estão em situação de rua ou sofrem os abusos em casa mesmo. É difícil não pensar no filme Tempo de matar quando o advogado de defesa do homem que matou os estupradores de sua filha (toda a família é preta inclusive a vítima. Já os estupradores são brancos) narra como todo o estupro aconteceu. Diante de um júri emocionado, o advogado diz: agora imaginem que a menina é branca. Acho incrível como o olhar dos jurados muda, perplexos. Porque sim, a cor muda o olhar da gente. Acho que isso não dá para negar. Se não deu para entender, recomendo ver o filme que é muito bom e baseado em fatos reais.

Mas voltando à questão da superficialidade das pessoas. Lembro da vez em que fui a um debate a respeito de exploração sexual contra crianças e adolescentes. Uma pessoa acolá (que acha uma perda de tempo se envolver nessas besteiras de movimento social) disse que era uma perda de tempo, que tinha umas meninazinhas aí que até gostavam, que eram sem-vergonha. Essa senhora, quando assiste a alguns programas policiais mostrando garotas exploradas sexualmente fica dizendo que elas são safadas e não sei o que mais. E agora tava aí querendo ir ao velório da Alanis, uma menina que ela nem conhecia. Queria “prestar solidariedade à família.” Mas tem que ver que a pobre menina foi obrigada a ir, né? Essas outras aí sofrem não, acham até bom. Se vão porque querem não é violência. Nojo, nojo, nojo.

E vem jornal-circo dizer que precisamos proteger nossas crianças. Os mesmos que identificam constantemente na TV vítimas de abuso sexual ou mesmo mostram as imagens de adolescentes infratores, violando o Estatuto da Criança e do Adolescente que (vejam só!) foi criado exatamente para proteger nossas crianças. Reclamam em seus pequenos auditórios dessas pessoas que “querem proteger os pequenos marginais privando a sociedade de conhecê-los e usam a censura para barrar o trabalho dos comunicadores.”

Sejamos francos. Nossa sociedade não quer proteger as crianças. Algumas pode até ser, mas não todas. Porque se a gente quisesse de verdade proteger a todas elas, as mobilizações seriam intensas constantemente, o assunto jamais sairia das pautas jornalísticas e a polícia agiria rápido sempre. Essa pressão popular que é fundamental para concretizar mudanças, não se limitaria a acontecimentos como este que por alguma razão parece mais atrativo e emocionante do que outras centenas. Acho que por o acompanhamento da imprensa ter acontecido desde o início, deixando as pessoas ansiosas por um desfecho. Como se estivessem assistindo a uma novela. Uma pena que a mobilização estruturante seja apenas factual e limitada e seja tratada como mais um drama da vida real a ser esquecido em pouco tempo, juntamente com outros milhares de casos.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Melhor impossível

2010 chegou com dois pés direitos! Potô e eu fizemos uma viagem que há tempos sonhávamos: Fomos a Camocim, cidade natal da família do meu pai, onde passei grande parte das férias da infância e onde morei por três anos. É um lugar lindo e que eu amo demais. E a felicidade em ter o Potô comigo não cabia em mim. Deixo aqui alguns fragmentos dessa viagem maravilhosa.