sábado, 8 de janeiro de 2011

Crítica teatral - Engenharia Erótica: fábrica de travestis


Depois de muito tempo sem ir ao teatro, presenteei a primeira semana de 2011 assistindo a um espetáculo... Como encontrar uma palavra para definir? Glamouroso? Emocionante? Divertido? Brilhante? Que palavra poderia resumir todos esses adjetivos... Já sei: Babado! Isso mesmo, “Engenharia erótica: fábrica de travestis”, com direção de Silvero Pereira, é um espetáculo babado.

Seguindo a trilogia iniciada com os espetáculos “Uma flor de dama” e “Cabaré da dama”, a Engenharia mescla vários aspectos da vida das travestis. Desde as performances realizadas na noite, em que as artistas dublam com absoluta perfeição diversos gêneros musicais, com efeitos de luz, figurinos carregados de paetês e toda a sorte de artifícios no que se refere a cabelo e maquiagem, até os fantasmas que rondam a vida dessa população: os vícios, a prostituição, o risco de adquirir a AIDS ou ser vítima de violência. Parte dessa violência baseada apenas no preconceito, no ódio e na intolerância de uma sociedade que teima em negar a diversidade.

Já ao entrar no teatro do Centro Cultural Banco do Nordeste, à meia-luz elas circulam e sorriem maliciosas aos seus possíveis clientes. As roupas são curtas e os saltos altíssimos. Uma travesti vai até um canto e cheira uma fileira de pó no pulso.

Na entrada da sala reconheço Diego Salvador de outros espetáculos e de uma campanha realizada na Praça do Ferreira no último Dia Mundial de Luta contra a Aids. Ao cumprimentá-lo, ele me olha através dos cílios postiços e pergunta: quem é Diego? Bem, o erro foi meu: o espetáculo já começou e ali não há nenhum Diego, e sim Yasmin Shirran, uma travesti que saiu de casa ainda na adolescência e que só desceria do salto agulha para subir na ponta de uma sapatilha de balé.

E quando a viagem começa, é impossível não rir e se divertir. As conversas bem humoradas e as performances no palco ornadas de paetês fascinam a platéia. As expressões utilizadas, que são esclarecidas com a exibição do vídeo “Glossário – 2ª lição” (confira a parte 1), arrancam risos inclusive em momentos pesados de drama.

Enquanto alguns expectadores (inclusive eu) se constrangem, choram e calam diante da violência e dificuldade de vida que a peça retrata, para alguns parece faltar sensibilidade. Algumas risadas não cessam mesmo quando Gisele Almodóvar abre, apavorada, o próprio exame de HIV. Para alguns parece difícil perceber onde a piada termina, mostrando que um mundo tolerante é possível, mas ainda é difícil fazer as pessoas entenderem que travesti não é bagunça. E agora a minha crítica fica para uma parte da platéia de ontem: Tinha um povo muito pêssego!


O espetáculo terá sua última apresentação desta temporada hoje à noite, no Centro Cultural Banco do Nordeste, que fica na rua Floriano Peixoto, no Centro, aqui em Fortaleza. A apresentação é às 18h e os ingressos são distribuídos gratuitamente às 17h30min. Aconselho a chegar com pelo menos uma hora de antecedência para garantir o ingresso. A censura é de 18 anos.

Bom espetáculo!

4 comentários:

Mariana B. disse...

Tentei falar com você pelo orkut, mas ele não colabora.


Olá! Desculpa a invasão, mas vi que você é daqui de Fortaleza. Eu estou procurando ajuda pra divulgar os crimes cometidos aqui no orkut. São crimes como apologia ao estupro, homofobia, racismo, pedofilia. Estou criando uma lista de emails de jornais importantes para divulgação e também já denunciei a policia federal.
http://feminismoconstrutivo.wordpress.com/2010/12/12/apologia-ao-estupro-no-orkut/

Nesse link tem prints de conversas feitas pelos criminosos. Meu objetivo é que no mínimo essas comunidades sejam excluídas. Mas o que queria mesmo é a prisão de alguém desse bando de fake.

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=109211846

Nessa comunidade estamos tentando nos organizar.

Obrigada pela atenção!

Potô disse...

O espetáculo é realmente muito bom, me apaixonei pela apresentação.

O trabalho realizado pelo elenco ficou muito bem dividido durante a apresentação, começa com o humor, depois parte para o drama, logo em seguida troca de conversas com o público. O que mais me chamou a atenção foi essa linha muito fina entre a comédia e o drama que eles souberam colocar em todo o espetáculo.

O espetáculo é muito bom, mas tenho que dizer (igual a você) que tem pessoas que não tem sensibilidade com a causa LGBT, porque diversas vezes ouvimos risadas e em momentos muita seriedade. Enfim... a peça está de parabéns juntamente com os atores.

Ps: Parabéns pelo texto, você realmente conseguiu passar as sensações sentidas durante a apresentação. Continue fazendo críticas culturais que acho que você vai longe.

AMO!

Sheryda Lopes disse...

Olá, Mariana! Muito bom que haja a organização. Atualmente meu acesso a Internet está limitado e tenho ido pouco ao orkut. Mas vou dar uma olhada lá na comunidade e divulgar. Um abraço!

Sheryda Lopes disse...

Amorzão, valeu os elogios! Eu tb observei que a interatividade no espetáculo estava forte. Inclusive utilizando a Internet de forma bastante inteligente.

Quanto à sensibilidade do público... Parece que ainda é uma longa caminhada. Mas uma caminhada que já acontece. Amo!