quinta-feira, 16 de julho de 2009

Mulheres no computador = Homens pasmos


Como contei num post anterior, estou fazendo um curso de webdesigner. Agora, o que não contei é que sou a única mulher. E já ouvi muitas coisas por conta disso, e só então percebi que nós somos raras em cursos desse tipo, assim como em hardware, designer gráfico avançado e programação. Acho que devido às nossas supostas funções no mundo (decoração e delicadeza) somos sempre levadas a fazer cursos de recepcionista, secretariado, call center, etc. Aos homens ficam reservadas as funções que exigem mais racionalidade e frieza. Sem falar que para se desenvolver bem em programas de computador, é preciso ter tempo para ficar estudando, mas adivinha quem tem que fazer as tarefas domésticas ao invés disso? Um doce a quem adivinhar.

Abaixo, algumas pérolas de meus masculinos colegas:

-Porque você resolveu fazer um curso de webdesigner? (pessoa do sexo masculino pasma e intrigada)

-Porque quero aprender a fazer sites. (Dã!)

Na hora do intervalo, conversa entre dois homens e eu:

- Oi, você estuda aqui?

-Estudo.

-À tarde?

-Não, à noite (?o que eu estaria fazendo lá às 20:30 se estudasse à tarde?).

-Faz curso de quê?

- Web (me preparando para o pior).

-????Sééééério???? Nooossa!

- É sim! Eu também fiquei impressionado! Eles têm sorte, não tem ninguém florindo a minha turma.("eles " devem ser os meus abençoados colegas)

- Eu não tô florindo nada não!

- Mas se tem uma mulher, então o ambiente está florido!(poeta... )

- O curso é de web, não de paisagismo.( emocionada com a homenagem)


Isso foi depois que descobriram que eu além de mulher era feminista:

- Quer dizer que você é feminista?

-Anrã.

- Sinceramente, eu acho as feministas são mais machistas que os homens.

-Quantas feministas você conhece?

-Você é a primeira.

-Essa visão preconceituosa é muito reforçada para enfraquecer nosso movimento. Essa e muitas outras, como dizer que as mulheres são determinadas a cuidar do lar enquanto o homem detém a vida pública.

-Mas isso é verdade, todo mundo tem que assumir suas funções. A mulher tem ser mãe e educar os filhos, é natural. É porque querem quebrar esse equilíbrio que a nossa sociedade está ficando assim, sem rumo.

-Você acha que a nossa sociedade é equilibrada?

-Acho.

-Você deve ter uma vida muito confortável.

E essa foi quando eu estava brincando no Corel Draw durante uma aula livre e fiz o desenho abaixo:

Um colega atrás de mim viu a ilustração e falou beeem alto:

-Ei, esse desenho aí num tá meio LÉSBICO não?(indignado)

Respondi bem altão também:

-MEIO? Eu fiz o mais lésbico que consegui e ainda assim ficou só meio lésbico? (risinhos abafados da turma seguido de silêncio).

Ultimamente tenho evitado esses momentos porque o curso é a noite e quase sempre estou super cansada para ainda ter que me meter em debates e esclarecimentos. Mas sinceramente, é um saco ouvir as piadinhas machistas no fundão comentando de forma nojenta as gostosonas não sei de onde, fora as homofobias. Esta semana, por exemplo, tinha um cara dizendo que o Alexandre Pato (jogador muito rico) podia ter qualquer “gata-gostosa” que quisesse, mas ao invés disso tinha casado com uma “doidinha-mó-páia”. Ai meus sais lilases...

Agora quando algum absurdo é “compartilhado” para a turma durante a aula eu me dou o direito a algumas cortadas. Afinal, ser feminista é estar sempre alerta. O problema é quando a gente acaba sendo tão violenta quanto o agressor e acaba perdendo uma oportunidade de firmar um diálogo. Mas também nem sempre tem que tratar com luvas de pelica certas coisas. De vez em quando um Simancol básico cai bem. E haja Simancol.

3 comentários:

Alessandra Guerra disse...

rsss. muito engraçado shery.. ninguém merece mesmo.. rss
O desenho ficou muito fofo!
depois deixa eu colocar no blog do lamce...
bjs

Sheryda Lopes disse...

Pode pôr sim, Alê. Só não esquece o crédito, ok? Bjão!

lola aronovich disse...

Shery, hilários os diálogos! Ri muito. Vc conhece a Débora, do Ashen Lady? Acho que ela enfrenta problemas parecidos com os seus por mexer com computador no planeta dos homens.