quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Autonomia

Neste momento
Algo em mim grita
Uma energia, uma fera
Que mal me cabe
Insistindo no capricho de se libertar.

Ela é laranja e marrom
E tem longos cabelos cor de fogo
E olhos em brasa. Amarelos.

Trata-se de uma fera doce.
Não é má, nem mal-intencionada.
Ela apenas não se conforma
Nem compreende
Porque precisa ser privada
Do que é seu de direito: a liberdade.

Minha fera tem algo de fada
Com asas finas e delicadas
Transparentes e azuis.
Uma fera amável e furiosa,
Com longas mãos cujas pontas dos dedos
São afiadas e espinhosas
Como pontas de faca mortais.

Mas minha fera não quer causar dor.
E como ela teme machucar!
Me promete que se eu a soltá-la
Vai se comportar bem – seja lá o que isso signifique –
E tocará nas coisas com delicadeza.

Porque minha fera não quer sangue.
Ela só quer vento, flor, brilho e sorriso.

E eu, que sou sua carceireira,
Clamo por libertá-la.
Mas não o faço.
Mantenho minha fada em seu cativeiro
Que é meu coração.
A mim pertence a chave, sou eu quem a tenho,
E (ah!) como quero dar a ela a chance de alçar vôo!

Mas se não o faço
Não é à toa.
É porque dentro do coração do meu outro
Também vive uma fada.
Só que ela acredita (e ele também)
Que quando surge o amor
As fadas-feras precisam ser trancadas.
Porque feras livres matam o amor.

Eu e minha fera-fada não acreditamos nisso.
Para nós, o amor não vive porque está atado.
Ele vive porque vive, e para viver
Não se alimenta
De corrente nem de cadeado.

Ele vive dos sorrisos, da alegria.
De todo o brilho e felicidade
Que exala de cada riso e alegria que se realiza.
Ele respira o cheiro bom de carinho, de respeito e de ternura.

Meu amor não come esse negócio que chamam de “exclusividade”
Embora queira comer ciúme de vez em quando.
Mas ele sabe que ciúme nem é tão bom assim e ainda por cima dá cárie.
Minha fera gosta de jambo e de jambo tem o gosto.

Libertar minha fada,
Seria algo assim como matar a fada do meu bem.
Eu sei que é estranho, pois minha fada não é má
E tão pouco a dele.
Só que a fada dele acredita
Que só sobrevive se ambas
Estiverem presas.
Se eu soltar a minha
É como se machucasse a dele, como se a matasse.

E fadas não devem morrer.

E eu, mesmo sabendo
Que não pertenço a ele e também não o possuo,
Tenho tanto medo de não ser mais dele
E de que ele não queira mais meu...

E é por isso que minha fera-fada laranja e marrom está presa.

Até que (quem sabe um dia)
A fada dele perca o medo de voar.
E note que voando o amor não vai embora.

Minha fera continuará presa
Com seus cabelos em chamas
E seus doces olhos amarelo-brasa.
Ela não ficará calada, acredite.
Continuará gritando, arranhando grades e me implorando por um bater de asas.

E eu (por mais que não a liberte)
Estarei sempre a ouvi-la
Pois jamais hei de negar sua existência.

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