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terça-feira, 26 de abril de 2011

Quem tem medo de ser fashion?

Brüno, com Sacha Baron Cohen. Sátira com o mundo da moda, homofobia e outros assuntos polêmicos. Crítica aqui e aqui.


A moda é um fenômeno que me fascina. Às vezes eu a odeio. Acho fútil, superficial, e um completo estímulo ao consumo alienado e desenfreado. Já em outros momentos, ela me seduz e me oferece possibilidades de expressar através de meu próprio corpo traços de minha personalidade. Se em alguns momentos isso é apenas pretexto para o consumo, em outros se torna um estímulo para reinventar antigas peças e acessórios.

Antes o meu olhar sobre a moda era completamente nojento. Achava tudo um monte de besteira e odiava o jeito como as mulheres se iludiam, se achando as poderosas por causa de um sapato novo, por exemplo. E isso com toda a violência contra as mulheres truando, a lógica do patriarcado tomando de conta. Quer dizer, você fica se achando porque pintou as unhas de vermelho mas não consegue contestar por que as obrigações domésticas são prioritariamente suas? Ou não aceita a própria aparência, não contesta os padrões de beleza impostos? Grande poder. Para mim, gostar de moda era sinônimo de gente alienada.

O meu olhar sobre esse fenômeno social mudou na época da minha monografia. Li muito sobre relações de gênero durante esse período e também sobre moda. Não só as revistas femininas que eram o objeto da minha pesquisa, mas livros a respeito da moda, seus fundamentos e sua trajetória no decorrer da história.

Dessas leituras, uma das que mais gostei foi História da moda: uma narrativa, do professor de moda João Braga. De uma forma rápida, fluida e interessante, o autor mostra como a moda reflete o contexto socioeconômico e político em que está inserida. Além disso, ela reflete de forma bastante significativa a história das relações de gênero, às vezes reprimindo as mulheres, às vezes libertando-as. Infelizmente tive dificuldades de encontrar o livro na Internet, mas neste site tem pelo menos o preço, caso alguém se interesse.

Um dos pontos mais importantes a serem observados em relação a moda e ideologia, na minha opinião, é que uma não anula a outra. E mesmo a pessoa mais anti-moda e anti-consumo do planeta escolhe o que vai vestir. Sabe aquele roqueiro barra pesada que anda sujo e diz que não liga para a aparência? Dê para ele uma camisa do Aviões do Forró e veja se ele gosta. Ou talvez o comunista assumido e que prega o reaproveitamento e o sentimento anticapitalista não queira usar uma camisa com a estampa da Coca-Cola. Nem de graça. Inclusive, expressar idéias através de mensagens nas camisetas é uma forma válida e interessante de se colocar politicamente, não acha?

A moda permite um exercício de criatividade muito interessante. Pode ser divertida, pode ser irônica. Pode até ser over, se quiser. Não tem nada de errado em escolher o que se quer usar. O fato de gostar de moda não necessariamente quer dizer que a pessoa é vazia, alienada. Isso é besteira.

Você pode sim, querida, ser doida por sapatos. Isso não depõe contra você. Mas reflita sobre esse consumo e sobre sua situação no mundo. Você está com um sapato incrível, mas ainda anda na rua com medo de ser estuprada, é expulsa de universidade por usar um vestido curto demais, e ainda apanha do marido? Pois não pense só no pretinho básico, veja se seus direitos básicos estão contemplados e aja. Porque sapato por sapato, o único que conheço que já salvou alguém foi o da Doroth , de o Mágico de Oz. E ela teve que dar uma ajudinha.



quarta-feira, 29 de abril de 2009

Como vai a sua práxis?


Mais uma vez eu refletindo sobre conflitos existenciais. O da vez é a chamada práxis, termo grego muito usado na filosofia e que quer dizer algo como passar da teoria para a prática. Ou seja, não só ficar refletindo sobre o mundo, opressões e idéias e sim, trazer as questões e comportamentos libertários (no meu caso) para o cotidiano.

Só que da desconstrução à prática não é tão fácil assim. E aí eu me pego questionando minhas próprias atitudes.

Por exemplo: Lá vai alguém contar pra gente que a idéia de monogamia foi consolidada com princípios capitalistas, para que as riquezas acumuladas permanecessem na família. A própria igreja católica, por exemplo, é clássica. Os padres não podem se relacionar e casar para que os bens da Igreja não sejam compartilhados com os “civis” (rs). Mas é lógico que não é esse o discurso empregado, e sim, que os padres devem dedicar toda a sua vida a deus, e tal.

Aí eu paro e penso que realmente a teoria faz TODO o sentido. A monogamia instaurada não tem fundamento nenhum. Como o desejo sexual por outra pessoa pode significar diretamente que você não ama seu companheiro(a)? E a amizade, coisas compartilhadas, sentimentos em comum, vontade de estar junto... Tudo se apaga? Porque se relacionar sexualmente com outra pessoa significa uma traição?

E aí vai: um turbilhão na cabeça da gente. Mil pensamentos baratinando, a revolta por ter sido oprimida durante tanto tempo por uma sociedade que perpetuou valores que refletem relações de posse, etc, etc...

Mas como trazer isso para a prática? Quer dizer, só de pensar no meu namoradim ficando com outra pessoa, já dá uma dor no coração e no ego. Pensar em alguém que “traiu” o (a) companheiro (a), também já dá raiva. Pensar na possibilidade de desejar outra pessoa, ou pior, na possibilidade de efetuar esse desejo, dá um remorso imenso. Mas será que realmente desejar outra pessoa significa que não é amor e sim... outra coisa? E até onde enfrentar esses sentimentos não significa também uma autoviolência?

Um jogo de sentimentos mil, que se esbarram e que por mais que a gente tente, não aceitam se anular. Aí lá vai o anjinho conservador dizendo “Fique com ciúmes!”. Aí o diabinho libertário diz: “Deixe de ser besta, foi o sistema quem te convenceu que isso importa!” E a gente doidinha arrancando os cabelos.

Mas acho que pensar e refletir sobre o mundo é isso mesmo: se perder, se encontrar, se perder de novo... O importante é não parar de pensar, não aceitar tudo pronto e tentar construir relações de lealdade com quem se ama. Quanto à dor de cabeça... Bem, ninguém disse que seria fácil.